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Indígenas do Maranhão denunciam PM por prisão ilegal

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Ronan Carlos Meira Ramirez
Ronan Carlos Meira Ramirez
Ronan Carlos é jornalista, diretor do 61notícias e apresentador do canal 61podcast no YouTube, com mais de meio milhões de inscritos. Em 1997, estreou na tv como publicitário fazendo várias participações em programas de tv anunciando empresas e marcas com relevância nacional e internacional. Em 2022, lançou o livro sabores da vida uma autobiografia de sua história de vida e superação.

A Polícia Militar do Maranhão prendeu quatro índios da etnia Akroá-Gamela nesta quinta-feira (18), acusados de fazerem funcionários da empresa de energia elétrica Equatorial Energia e dois policiais militares reféns, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão.

A Equatorial Energia informou, por meio de nota, que seus funcionários trabalhavam na construção da Linha de Distribuição LD Miranda, que corta o território ocupado pelos akroá-gamela, quando foram abordados por um grupo de índios que exigiam a imediata paralisação do serviço. A companhia disse que, diante da situação, enviou para o local, na manhã de ontem, um grupo de negociadores encarregados de agendar uma reunião com representantes das comunidades indígenas.

“[Foi então que] os indígenas se exaltaram, mantiveram todos reféns por algumas horas, tomaram as armas dos policiais que foram chamados para tentar controlar a situação e atearam fogo nos veículos da concessionária. Um reforço foi solicitado e os reféns foram libertados sem ferimentos”, diz a nota.

Já as lideranças da Terra Indígena Taquaritiua acusam os policiais de deterem, com violência, indígenas que protestavam contra a ação da companhia energética em território indígena.

Os akroá-gamela disseram ainda que foram atacados por “jagunços” que, segundo eles, teriam se apresentado como policiais à paisana. Em relato a missionários do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), indígenas contaram que, ainda na tarde de quarta-feira (17), a comunidade foi surpreendida pela chegada, hostil e sem aviso prévio, de funcionários da Equatorial acompanhados por homens armados.

A tensão aumentou na manhã de quinta-feira, quando indígenas questionaram a presença do grupo. A partir daí, as versões apresentadas por indígenas e autoridades estaduais se contradizem.

A Secretaria Estadual de Segurança Pública disse que a Polícia Militar foi acionada depois que os indígenas já tinham queimado veículos da Equatorial e feito funcionários da empresa de reféns. Informou ainda que, ao chegarem no local, dois PMs também foram feitos reféns e tiveram suas armas subtraídas.

“Os policiais não reagiram para evitar qualquer confronto. [Um] Reforço foi solicitado, os reféns devidamente resgatados e quatro autores conduzidos para a Delegacia Regional de Viana. As armas subtraídas foram recuperadas no final da tarde”, disse a secretaria, em nota.

Os akroá-gamela, por sua vez, alegam que os PMs foram acionados pelos homens armados que faziam a segurança dos funcionários da Equatorial e que diziam também ser agentes da segurança pública. Segundo os indígenas, ao chegarem ao local os PMs apreenderam celulares e outros equipamentos pertencentes a pessoas que registravam a situação e levaram lideranças indígenas à força para a delegacia.

De acordo com o Cimi, há anos a Equatorial Energia tenta instalar torres e linhões de transmissão de energia elétrica dentro da Terra Indígena Taquaritiua. Ainda segundo a entidade, embora a conclusão do processo de demarcação da área reivindicada como território tradicional dos akroá-gamela se arraste desde 2014, a legislação exige que a comunidade seja consultada sobre qualquer empreendimento no território que a impacte.

O Cimi denuncia que a tensão na Terra Indígena Taquaritiua aumenta ano após ano, “devido à demora da conclusão do processo de demarcação territorial”.

Confronto

No fim de abril de 2017, dezenas de indígenas foram feridos à bala, pauladas e facadas por homens armados que atacaram o povoado de Bahias, na mesma área indígena de Viana (MA). Após o episódio, a Funai constituiu, por força de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF), um grupo técnico encarregado de identificar e delimitar a área de usufruto dos akroá gamela. O processo ainda não foi concluído.

A Equatorial Energia disse ter obtido dos “órgãos competentes” as licenças necessárias à realização do empreendimento. Consultadas pela Agência Brasil, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ainda não se manifestaram.

Diante da ação indígena e da repercussão do episódio, a companhia energética decidiu suspender a obra até que os órgãos competentes apurem os fatos. Segundo a empresa, a conclusão da Linha de Distribuição – LD Miranda, que terá 150 quilômetros de extensão, é “essencial para promover o desenvolvimento da região da Baixada Maranhense” e “levar energia de qualidade para todos os clientes, entre eles os povos indígenas do Maranhão”.

Pará

Esta semana, a Equatorial Energia foi alvo de uma iniciativa extrajudicial da Procuradoria da República do Pará (MPF-PA), recomendando a imediata interrupção de obras que estão sendo realizadas irregularmente no interior da Terra Indígena Alto Rio Guamá, no nordeste paraense.

As recomendações foram enviadas à empresa e também às prefeituras de Nova Esperança do Piriá; Viseu e Garrafão do Norte.

Para o MPF, os empreendimentos beneficiam “invasores do território dos indígenas Tembé e não têm autorização nem do Ibama, nem da Funai. Entre as obras em construção em áreas ocupadas por não indígenas, há aterros sanitários, escolas e rede de energia elétrica.

Especificamente à Equatorial Energia, os procuradores recomendaram a imediata suspensão da execução de qualquer projeto de instalação de energia elétrica dentro da Terra Indígena Alto Rio Guamá sem a prévia autorização da Funai e licenciamento ambiental expedido pelo Ibama. A Equatorial também deve proceder, em 30 dias, a revisão de todos os projetos de instalação de rede elétrica dentro da terra, para verificar a regularidade. Outro prazo, de 45 dias, foi concedido para que a empresa interrompa o fornecimento de energia para ligações clandestinas.

Outro lado

A reportagem procurou a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Maranhão para se manifestar respeito das acusações dos indígenas, e para informar se os quatro indígenas permanecem detidos ou foram liberados, mas ainda não recebeu resposta.

Procurada, a Equatorial Energia ainda não se manifestou.

Fonte: Agência Brasil

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