A documentarista e professora da Universidade de Brasília (UnB) Edileuza Penha de Souza teve seu filme Filhas de Lavadeira (2019) premiado como melhor curta documentário pelo júri do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2021. A premiação, realizada no último dia 28 de novembro, é organizada pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais (ABCAA).
A história de lavadeiras que mudaram o destino de suas filhas, lutando para que tivessem acesso à educação, concorreu com outras seis produções. O filme de 22 minutos teve aporte do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) no valor de R$ 120 mil.
“Vários trabalhos premiados tiveram aporte do FAC, o que mostra sua importância. Sem esse apoio financeiro, não seria possível o filme ter a dimensão que teve. Gravamos no Rio de Janeiro, onde pudemos dar voz a dona Ruth de Souza (1921-2019), por exemplo. Foi o último trabalho dela, a primeira mulher negra a pisar no palco do Teatro Municipal”, informa.
Também pelos recursos do FAC foi possível falar com Conceição Evaristo (escritora) e Benedita da Silva (professora, deputada federal). “É indiscutível o impacto do FAC na produção da cultura do DF”, defende a cineasta.
“É um filme de mulher negra dando vozes a outras mulheres negras, construindo um cinema negro no feminino”Edileuza Penha de Souza, cineasta e professora
Um filme de mulher negra
Edileuza diz estar feliz com a premiação, mas o reconhecimento tem um significado especial para ela. “Acredito que estamos no caminho certo, de dar voz para mulheres que foram historicamente silenciadas. Esse cinema é urgente”, declara a cineasta, que teve seu filme também laureado no ano passado pelo festival internacional de documentários É Tudo Verdade.
“É um filme de mulher negra dando vozes a outras mulheres negras, construindo um cinema negro no feminino”, define Edileuza. A diretora capixaba defende que as premiações devem-se também à técnica, arte e dedicação de sua equipe: “Entregamos ao público um produto de qualidade”.
Edileuza conta que a repercussão do curta-metragem lhe abriu muitas portas: “Foram vários convites, o curta participou de muitas mostras nacionais e internacionais”. Ela também defende a importância do filme como peça de resistência num contexto em que os financiamentos da sétima arte contemplam em sua quase totalidade homens brancos e heterossexuais.
Pesquisa do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), feita em cima de filmes brasileiros de maior bilheteria entre 2002 e 2012, aponta que as mulheres têm baixa participação nas funções de direção e roteirização dos filmes comerciais e apenas 4% do elenco principal desses filmes foi composto por mulheres pretas e pardas.
“Até 2020, a gente não tinha nenhum filme de mulher negra financiado pela Ancine. O filme de Viviane Ferreira Um Dia com Jerusa’ (2020) é fruto de um edital federal afirmativo e está hoje bombando na plataforma da Netflix. É isso, nos deem oportunidade. É o que reivindicamos. Sabemos fazer cinema com qualidade. O que a gente não tinha era oportunidade. A cor de nossa pele, o principal impedimento”, critica.
A diretora tem pós-doutorado em Comunicação e doutorado em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Estudou na Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños (EICTV/Cuba), onde participou como roteirista e diretora de diversas realizações, entre elas o premiado curta Teresa (Brasil/Cuba/ México/Venezuela, 2014).
É ainda idealizadora, curadora e coordenadora da Mostra Competitiva de Cineastas e Produtoras Negras Adélia Sampaio – cujo nome homenageia cineasta brasileira do Cinema Novo e primeira mulher negra a dirigir um longa no Brasil –, curadora do Festival de Cinema do Paranoá (DF) e da Mostra de Cinema da Cova, Lisboa. Organizou ainda a coleção Negritude Cinema e Educação (2014).
*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF
Fonte: Agência Brasília