Seis colégios de gestão compartilhada do DF oferecem aulas de música no contraturno para 480 alunos
Carolina Caraballo, da Agência Brasília | Edição: Carolina Lobo
A flauta transversal ainda é um objeto estranho nas mãos de Manuela Costa. Não tem nem dois meses que a aluna do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 do Riacho Fundo II começou a ter aulas de música, pela primeira vez nos 11 anos de vida. A empolgação por estar vivendo uma experiência inédita vem acompanhada da realização de um sonho: seguir os passos da mãe e integrar a banda da escola onde estuda.
“É uma emoção muito grande poder tocar um instrumento, do jeitinho que minha mãe fazia quando ainda era estudante”, conta Manuela. “Fora que a música tem me encantado em vários sentidos. Além da beleza do som, a minha coordenação motora já melhorou muito com as aulas, fico impressionada. E eu também sinto que consigo prestar mais atenção nas aulas, ter mais concentração”, relata.
O CEF 1 do Riacho Fundo II é um dos seis colégios de gestão compartilhada do Distrito Federal que participam do projeto Musicalização nas Escolas Cívico-Militares. Desde 1º de agosto, 480 alunos têm aprendido a tocar um instrumento no contraturno escolar. São três aulas por semana, cada uma delas com três horas de duração, todas ministradas por músicos da reserva militar do Corpo de Bombeiros (CBMDF).
“A comunidade já ansiava pela oferta de uma atividade extracurricular. E os benefícios que o estudo da música traz para os estudantes é enorme”, observa o coordenador do projeto, tenente Huadson Gutemberg. “Aprender a tocar um instrumento trabalha coordenação motora, raciocínio lógico e até conceitos da matemática. Ajuda a melhorar a concentração, a ter mais disciplina e aumenta a interação entre as crianças.”
Os alunos participantes do projeto têm 12 instrumentos à disposição: flauta transversal, clarinete, saxofone alto, saxofone tenor, trombone de vara, trompa, bombardino, tuba, tarol, bumbo, prato e lira. “A distribuição é feita de acordo com as habilidades de cada aluno demonstra ter no primeiro dia de aula”, explica Huadson. “E o critério adotado para participar da banda leva em conta as notas e o bom comportamento dos estudantes”, ressalta.
Enquanto nas escolas de música tradicionais cada professor atende um aluno por vez, a fórmula usada pelo projeto é mais abrangente – no método conhecido por Belwin Elementary Band, um único professor ensina até 25 alunos de uma só vez. “A execução dos instrumentos é feita de forma coletiva, associando a teoria à prática desde o primeiro dia de aula”, informa o tenente.
Inclusão
De todas as escolas que participam do projeto de musicalização, o CEF 1 do Riacho Fundo II é a única que tem uma banda inclusiva, formada por 40 alunos com algum tipo de deficiência. “Esses estudantes são estimulados pela música na parte motora e cognitiva, além de se sentirem valorizados por participar das atividades”, ressalta a diretora da unidade de ensino, Edilma Silvestre.
Para a pedagoga, a musicalização não beneficia apenas os alunos com deficiência. “De modo geral, a gente acredita que a música tenha o poder de tirar os alunos das ruas, ajudando a superar dificuldades de aprendizagem, a desenvolver habilidades e o gosto pela arte”, pontua Edilma.
O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, compartilha da mesma opinião. Ele destaca o poder que a música tem de abrir novos horizontes na vida das crianças. “Esses alunos podem até não atuar como músicos profissionais futuramente, mas vão aprender a conviver em um ambiente onde a cultura é valorizada”, avalia.
Segurando com cuidado o clarinete, Cecília Guimarães conta que sempre quis aprender a tocar um instrumento musical, “mas eu nunca encontrei uma escola que ficasse perto da minha casa”. “Agora que posso estudar música dentro da minha própria escola, penso em investir nisso. Quero ajudar outras crianças a terem a mesma oportunidade que eu tive”, frisa a menina de 11 anos.
A estudante do 6º ano ressalta que as aulas de musicalização têm mudado a mentalidade de muitos alunos do CEF 1. “Para participar da banda, é preciso ter bom comportamento, manter as notas boas. Isso nos incentiva a estudar, a sermos mais responsáveis”, aponta. “Vejo que meus colegas se esforçam para chegar às aulas no horário. E percebo também que estão conseguindo se concentrar melhor. É muito interessante”, diz.
Confira as unidades de gestão compartilhada que participam do projeto Musicalização nas Escolas Cívico-Militares:
➙ Centro de Ensino Fundamental 19, em Taguatinga
➙ Centro de Ensino Fundamental 1, no Núcleo Bandeirante
➙ Centro de Ensino Fundamental 407, em Samambaia
➙ Centro de Ensino Fundamental 1, no Riacho Fundo II
➙ Centro de Ensino Fundamental 1, no Paranoá
➙ Centro Educacional 2, em Brazlândia